E na parede do meu quarto ainda está o seu retrato.

"Quem está aí para morrer?
Quem está aí para a travessia dos vastos oceanos?
Resíduos de luas quebradas.

O mar, é tão tarde sobre o mar. E na mesma morte somos a lua e o mar.
O zinabre das sílabas que, a pouco e pouco, corrói o pensamento.

(A janela aberta, o copo de cerveja, a noite - sempre a noite ecoando passos, vozes, silêncios.
A mão, a tua mão quase líquida cercando o sexo. A língua na humidade doutra língua. O corpo celebrando a vida doutro corpo.)

Estremece o ar, a caneta, a tinta, os astros e o receio de quem parte sem dizer adeus.
Quem chegará depois de ti?
Quem nunca esteve aqui? - no resplendor do plâncton, por baixo da pele...
Quem regressou? - nesta imagem que aprisionou o firmamento do teu rosto, e com o tempo se desfaz...”

Al Berto, Dispersos